"Meu nome é mãe. Sou há dezoito anos exatamente igual a milhares de mães que de repente -- não mais do que de repente -- se vêem à frente de um filho que não é mais o seu filho... Que não é mais aquele que voce gerou, amamentou e cuidou com o carinho que só mãe é capaz de dar e que o viu transformar-se num belo adolescente. De repente, sem que voce se desse conta, esse adolescente deixa de ser seu filho e nem mais é lindo. Tudo se transformou e a vida dessa mãe passou a ser uma sucessão de medos e medos. Só medos. Seu filho se transformou seu carcereiro e seu cárcere; sua insônia e sua depressão. Atônita a gente se apercebe que está perdendo o filho para as drogas. E essa é poderosíssima. Ela vence mãe, vence pai, família, amigos, o presente e o futuro... É como um polvo com mil tentáculos. Alcança crianças, adolescentes, jovens mães, jovens pais, políticos, engenheiros, médicos, militares... Seus tentáculos alcançam os rincões mais remotos onde trabalhadores braçais cortam cana ou colhem laranjas. Todas as camadas sociais são atingidas, independentemente de cor, de credo ou sexo. Todos ficam emaranhados sob os tentáculos destruidores e mortais que deixam atraz de si um rastro de destruição e de muita dor.
Eu-mãe choro e rezo, rezo e choro.
Preciso tomar atitudes urgentes. Tecer um plano de fuga. Criar uma bolha. Imaginar um ilha de salvação, fazer tudo para proteger meu filho dele próprio e buscar afastá-lo das drogas.
Eu-mãe decido interná-lo em clínica para dependentes químicos e experi mento a mais terrível das dores quando o interno pela primeira vêz. Contra sua vontade. Usando de força-coativa. Vejo meu lindo feio filho chorar e chorar e continuar chorando durante todo o longo período da primeira internação.
Um dia a clínica que concede alta, eis que estava ele "limpo", como então diziam. Eu-mãe experimentava uma felecidade a tanto esperada recebendo-o com beijos e sorrisos. A vida teria que recomeçar e certamente seríamos uma família feliz.
Porém, isso era um triste engano. A droga houvera apenas lhe dado uma trégua, retomando-o de uma forma cada vez mais violenta submetendo meu lindo filho a surtos terríveis que obrigariam a novas e sucessivas internações. Era apenas uma trégua numa longa e dramática guerra.
Não jogue com a vida
Droga faz a gente viajar
» Droga faz a gente viajar? Faz.
» Faz a gente fluir? Faz.
» Faz a gente sonhar? Também faz.
» Então o negócio é curtir.
» E quando você quiser parar, você pára. Certo?
» Errado....